ESCS lança Cátedra UNESCO com valorização do pensamento crítico e envolvimento da comunidade
Na cerimónia de apresentação, a investigadora da Universidade Nova Maria Augusta Babo sugeriu que as tecnologias sejam encaradas como mediadores incontornáveis da nossa perceção do mundo e não apenas como ameaças para os cidadãos.
A necessidade de aprender a filtrar a informação que é transmitida e o impacto da comunicação na sociedade foram mote para a cerimónia de lançamento, a 30 de outubro de 2024, da primeira Cátedra UNESCO em Comunicação, Literacia Mediática e Cidadania, atribuída à Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL).
Maria Augusta Babo, professora jubilada do departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) e investigadora da Universidade Nova de Lisboa, lançou as bases de reflexão sobre os três temas desta Cátedra.
A investigadora do ICNOVA começou por mencionar quão importante é a literacia mediática enquanto filtro da informação que chega às populações. “A literacia, no sentido forte do termo, designa justamente este carácter interpretativo de elaboração de sentido, que pode ser entendido como um ato cognitivo de tradução”, que nos permite, por exemplo, separar o que é dito nas redes sociais do que é dito nos meios de informação.
Citando estudos recentes elaborados pela União Europeia que dão conta da dificuldade dos jovens em compreender os conteúdos veiculados, Maria Augusta Babo advertiu que “a escola não deveria estar focada exclusivamente na preparação tecnológica, mas sobretudo no pensamento crítico, na deteção de fake news e identidades online”.
“Ao invés de olharmos as tecnologias como perigos constantes, talvez devamos encará-las como mediadores incontornáveis da nossa perceção do mundo”, acrescentou.
Maria Augusta Babo sublinhou ainda o papel fundamental das tecnologias do conhecimento na formação da cidadania, afirmando que “o desafio que se coloca hoje à academia é envolver os cidadãos como forma de extensão do saber e como forma de colaboração recíproca”.
Paolo Celot, fundador e secretário-geral da Associação Europeia pelos Interesses dos Espectadores (EAVI), que entrou na sessão por videoconferência, elaborou sobre os requisitos necessários para fazer parte de uma cidadania plena e ativa e sobre o impacto das grandes empresas no controlo da informação.
“As mais importantes empresas mundiais representam a grande maioria do tráfego na Internet, o que significa que nós estamos à procura de mais informação. Mais de 60% do tráfego online está nas mãos destas grandes empresas”, alertou.
No decorrer da sessão, o grupo Música na Comunidade, resultante de uma parceria entre a Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e a Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), enfatizou aquelas questões num momento cultural, em que foi destacado o valor intrínseco da liberdade.
A secretária executiva da Comissão Nacional da UNESCO, Rita Brasil de Brito, relembrou os desígnios de uma Cátedra UNESCO e manifestou ter grandes expetativas no trabalho da ESCS, nomeadamente no combate à desinformação e ao discurso de ódio.
A encerrar o evento, Fernanda Bonacho e João Abreu, respetivamente chair e co-chair desta missão da UNESCO, alertaram para a responsabilidade de todos na partilha de informação, mas também para questões de segurança na navegação das plataformas digitais.
Fernanda Bonacho referiu que “a economia da atenção é diariamente e em todo o mundo disputada pelo ódio, proveniente de muitos que já têm poder e voz na sociedade, mas também por todos aqueles que sabem ser um caminho fácil e eficaz para obter visibilidade, não só nas plataformas digitais, mas também nos media tradicionais e em todo o espaço público”.
Nesse sentido, o trabalho a desenvolver pela Cátedra contará com iniciativas que contribuam para “sociedades mais informadas, inclusivas e democráticas” e que ajudem a fomentar um pensamento crítico e responsável que previna o extremismo e a polarização social, citada como um dos dez maiores riscos do mundo nos próximos dois anos.
A Cátedra UNESCO em Comunicação, Literacia Mediática e Cidadania é a primeira Cátedra UNESCO atribuída em Portugal na área da comunicação. Ao todo, existem 20 Cátedras UNESCO no nosso país.