Mais de 300 pessoas na Semana da Cidadania: Uma iniciativa “vital para nos tornarmos cidadãos mais atentos”
Entre 25 de setembro e 3 de outubro, a Semana da Cidadania “Será que Sei?”, organizada pela equipa da Cátedra UNESCO de Comunicação, Literacia Mediática e Cidadania (ESCS-IPL), contou com a participação de mais de 300 pessoas, a grande maioria alunos da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS).
O desafio era criar momentos de conversa e reflexão desafiantes e informativos e que contassem com a participação da comunidade do IPL.
O objetivo? Levar os participantes a pensar sobre a sua participação cívica no dia a dia e sobre os temas que mais os afetam – e o que fazem em relação a eles. Dada a proximidade das eleições autárquicas de 12 de outubro, havia também o propósito de criar espaços para que os alunos pudessem esclarecer as suas dúvidas sobre este processo eleitoral.
A programação da Semana da Cidadania contou com uma exposição e um debate sobre a evolução da comunicação política, a gravação ao vivo de um podcast dedicado às eleições autárquicas, uma mesa-redonda sobre clubes de leitura, um webinar com jovens candidatos às eleições e uma performance artística.
O balanço positivo da iniciativa pode ser resumido pelo testemunho de uma das participantes: “uma programação vital para nos tornarmos cidadãos mais atentos” e “para complementar a formação curricular”.
Os vídeos de cada uma das atividades estarão brevemente disponíveis no site da Cátedra UNESCO de Comunicação, Literacia Mediática e Cidadania.
A “comercialização” da comunicação política nas campanhas autárquicas
Logo no primeiro dia, o foyer no piso -1 da ESCS-IPL foi pequeno para acolher todos os que queriam assistir ao debate “Dos panfletos ao TikTok: Evolução da comunicação política nas eleições autárquicas”, com o historiador José Pacheco Pereira e a professora de Comunicação Política Rita Figueiras, moderado por Nuno da Silva Jorge, docente da ESCS-IPL.
Ainda antes da conversa, Pacheco Pereira fez uma breve apresentação dos materiais de comunicação política em exposição naquele espaço — uma mostra organizada pela Semana da Cidadania com os recursos do Arquivo Ephemera.
Entre 1976 e 2017, período abrangido na exposição, a comunicação política mudou muito. “Há uma maior profissionalização das campanhas”, referiu Pacheco Pereira, acrescentando que “o problema é que às vezes há cartazes que são mais como os da Remax”.
Rita Figueiras, concordando com a ideia de que existe uma padronização e “comercialização da mensagem política”, explicou que este fenómeno aproximou a propaganda “de um discurso comercial”, caracterizado por ser “mais apelativo e mais redutor”.
Quanto aos efeitos das redes sociais, nomeadamente do TikTok, na forma como os políticos comunicam atualmente, Rita Figueiras considera que “há um ritmo que se acelerou, porque as tecnologias têm acelerado também todo o processo de produção do discurso”. Os estudantes que assistiam ao debate questionaram se a adaptação a estas plataformas não acaba por comprometer o conteúdo divulgado. Para a investigadora, essa é efetivamente uma consequência: “Temos falas cada vez mais curtas, dinâmicas de discurso mais assertivo ou com uma tendência mais agressiva, porque é mais rápido, é mais fácil, produz mais envolvimento.”
No final do debate, o entusiasmo gerado pela sessão era visível entre a assistência. “Gostava que houvesse mais sessões destas, tanto sobre o mesmo tema, como sobre outros”, comentou uma das mais de 100 alunas que assistiram à conversa.
Pode ler mais sobre o debate neste artigo da CNN.
- José Pacheco Pereira (Gabcom/ESCS)
- (Gabcom/ESCS)
- Rita Figueiras, José Pacheco Pereira, Nuno da Silva Jorge (Gabcom/ESCS)
- Brindes oferecidos em campanhas de eleições autárquicas (Gabcom/ESCS)
A cidadania através dos clubes de leituras
No dia 26 de setembro, Dia Europeu das Línguas, a reflexão foi dedicada ao papel dos clubes de leitura do ensino superior nos hábitos de leitura e na promoção das línguas, numa mesa-redonda integrada no Festival das Línguas, organizado pela Agência Nacional Erasmus+ Educação e Formação e o Centro de Línguas e Cultura (CLiC), do IPL.
As convidadas – Antónia Estrela (LEReduca, Escola Superior de Educação de Lisboa, ESELx), Fernanda Bonacho (EntreLinhas, ESCS) e Sara Leite (Clube de Leitura do Instituto Superior de Educação e Ciências, ISEC) – contaram histórias que demonstram o papel humanizador e estimulante dos encontros promovidos pelos seus clubes de leitura.
Sara Leite lembrou que o Clube de Leitura do ISEC foi criado para aproximar a pessoas no período da pandemia e que acabou por se manter por fazer sentido à comunidade académica. Já Antónia Estrela, ao comentar o papel do LEReduca no desenvolvimento da língua, sublinhou que este clube de leitura tem permitido a diversificação das obras lidas pelos participantes e a expansão do seu vocabulário. Por seu turno, Fernanda Bonacho sublinhou o carácter comunitário e de educação mediática e cívica do EntreLinhas, recordando uma sessão em que se discutiu o combate ao discurso de ódio a partir dos livros levados pelos leitores, numa sessão com participantes entre os 10 e os 83 anos.
Embora as convidadas tenham admitido que é difícil garantir a participação dos estudantes das respetivas instituições nas sessões, todas concordaram que “vale sempre a pena, mesmo que em cada sessão só se chegue a mais uma ou outra pessoa”, nas palavras de Antónia Estrela.
Inspiradas pelo encontro, Sara Leite e Fernanda Bonacho expressaram, ainda, que é seu desejo reforçar a abertura dos seus clubes de leitura a vozes e culturas diferentes, incluindo um maior envolvimento dos alunos estrangeiros, que chegam através de programas internacionais de intercâmbio, como o Erasmus+.

Carina Rodrigues, Fernanda Bonacho, Antónia Estrela, Sara Leite
Perguntas e respostas sobre as eleições autárquicas: Uma experiência “interessante e divertida”
No dia 30 de setembro, o foyer da ESCS voltou a ficar repleto, desta vez para a gravação ao vivo do podcast P24, do jornal Público, com perguntas dos estudantes de vários cursos da ESCS sobre as eleições autárquicas.
Mais de 70 alunos assistiram à conversa entre Carla Luís, coordenadora do VoteDHr – Eleições, Democracia e Direitos Humanos, Ruben Martins, jornalista do Público, e as alunas de Jornalismo Maria Inês Rocha e Margarida Velez Dias, da ESCS FM.
As questões exploradas durante a sessão foram sugeridas pelos alunos da ESCS, que tinham sido desafiados a lançar perguntas sobre o processo eleitoral das autárquicas. Chegaram à organização quase 200 contributos.
“Quais os órgãos que elegemos nestas eleições?”, “Qual a diferença de funções entre a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal?”, “Nas eleições autárquicas o voto em braille não é contemplado. Que alternativas existem para eleitores cegos que desejam votar?” foram algumas das perguntas feitas pelos alunos.
O resultado pode ser ouvido no episódio do P24 de dia 1 de outubro, disponível no site do Público.
A gravação do podcast “foi um momento muito informativo, que me esclareceu dúvidas que tinha acerca das eleições autárquicas”, comentou uma aluna, descrevendo a experiência como “interessante e divertida”.
- Margarida Velez Dias, Carla Luís, Ruben Martins, Maria Inês Rocha (Gabcom/ESCS)
- Carla Luís (Gabcom/ESCS)
- Estudantes fazem perguntas durante a sessão(Gabcom/ESCS)
- Estudantes fazem perguntas durante a sessão (Gabcom/ESCS)
Candidatos autárquicos sub-25: Uma lição de democracia
No último dia da Semana da Cidadania, um webinar com sete jovens candidatos às eleições autárquicas surpreendeu os cerca de 60 alunos que assistiram à sessão online em sala de aula.
A surpresa foi motivada pela idade dos oradores, entre os 18 e os 25 anos, e pelo seu elevado nível de envolvimento político.
Participaram no webinar Amélia Saraiva (19 anos, CDU, Lisboa), António Soares (23 anos, BE, Santo Tirso), Bernardo Ferronha (25 anos, IL, Algés/Oeiras), Diana Bravo (23 anos, PSD, Guifões/Matosinhos), Helena Melo de Castro (18 anos, PS, Monção), Joana Oliveira Costa (23 anos, CDS-PP, Lisboa) e Pedro Pinheiro (23 anos, Livre, Matosinhos). Foram convidados todos os partidos com assento parlamentar.
Vindos de diferentes regiões do país e representando sete partidos, os candidatos mostraram ter em comum a vontade de desempenhar um papel ativo na sua comunidade. É nas eleições para o poder local que sentem que conseguem fazer mais diferença, porque os problemas são muito concretos e interferem com os seus quotidianos – os transportes para ir para a faculdade ou para o trabalho, o estado das ruas por onde passam, o preço das rendas das casas que precisam de arrendar, a diversidade das ofertas culturais.
Num ambiente cordial e descontraído, os candidatos partilharam as suas histórias de aproximação à política, valorizando acima de tudo a liberdade democrática destas experiências. Por exemplo, uma das candidatas contou que cresceu numa família bastante politizada, tendo aprendido a importância de assumir uma intervenção política ativa. Curiosamente, mais tarde, acabou por se filiar num partido com ideias bastante afastadas daquelas que encontra no seu contexto familiar.
No final da sessão, os candidatos deixaram o desejo de que a abstenção diminua e de que, independentemente dos resultados, seja possível a colaboração entre todos os eleitos para bem das suas comunidades.
Quando a arte e a política se encontram
A Semana da Cidadania encerrou, no dia 3 de outubro, ao final da tarde, com uma performance artística no Palco Panamá, do Welcome IPL, no Campus de Benfica.
Através de uma apresentação intitulada “(Des)Amparo”, Catarina Cotas, Elisa Furtado, Leonor Barra, Maria Madalena Dias e Sara Dias, alunas dos Mestrados de Formação de Formadores da Escola Superior de Educação de Lisboa desafiaram o público a refletir sobre a violência contra as mulheres.
O cenário da performance remetia para um ambiente caseiro: uma mesa com uma panela, e uma corda da roupa com alguns soutiens pendurados — presos aos soutiens, alguns papéis com palavras escritas pelo público sobre o tema. Ao longo da apresentação, ouvia-se apenas uma gravação com excertos de entrevistas a mulheres de várias idades, que falavam sobre situações de violência real nas suas vidas. As alunas, em silêncio, interagiam com todos estes elementos, recorrendo a gestos simbólicos de libertação.
Os rostos sérios – nalguns casos comovidos – das mais de 70 pessoas que estavam a assistir e o silêncio que se fez sentir durante toda a performance refletiram a necessidade de continuar a dar visibilidade a este tema.
No final, as alunas explicaram o processo de construção do seu objeto artístico, resultado de um trabalho da unidade curricular de Artes e Educação Física, coordenado pelos professores Abel Arez e Natália Vieira.
- (GCI/IPL)
- (GCI/IPL)
- (GCI/IPL)
- (GCI/IPL)
A Semana da Cidadania “Será que sei?” terminou, assim, com mensagens de apelo ao respeito e à dignidade, mostrando como a participação cívica também se pode fazer através da expressão artística.
Para o futuro, fica a motivação de realizar mais edições da Semana da Cidadania e o pedido dos estudantes de que haja ainda “mais oportunidades de participação”.